Santa Casa de Passos transforma gestão e assistência

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Santa Casa de Passos transforma gestão e assistência

No interior de Minas Gerais, a Santa Casa de Misericórdia de Passos tem conquistado atenção nacional não apenas pela extensão de seus serviços como hospital regional de referência, mas pela profundidade com que decidiu repensar sua forma de cuidar.

Sob a liderança de Daniel Porto Soares, superintendente geral da instituição, a Santa Casa consolidou-se como um dos exemplos mais consistentes de que a busca pela excelência na saúde filantrópica não é apenas possível, mas urgente.

Hoje, a instituição ostenta reconhecimentos importantes: Acreditação ONA Nível 3, certificação internacional Qmentum (Canadá) e o Selo de Distinção Diamante no serviço de hemodinâmica. 

“Esses selos são uma garantia para quem mais importa: o paciente”, afirma Daniel.

Para ele, embora muitos dos ganhos não sejam perceptíveis a olho nu, como a padronização de medicamentos ou os protocolos de segurança assistencial, o impacto final é sentido no que há de mais humano no processo: o acolhimento e a resolutividade.

“O paciente sente quando foi cuidado com seriedade, mesmo que não entenda os bastidores técnicos.”

Por trás dessa percepção está uma engrenagem complexa de processos que, para ser colocada em funcionamento, exigiu da instituição muito mais do que recursos.

“Houve um esforço grande de mudança cultural”, explica. Desde adaptações estruturais até a revisão crítica de fluxos assistenciais, o caminho para alcançar o Nível 3 da ONA exigiu da Santa Casa o redesenho da sua própria forma de operar.

O processo de acreditação, segundo Daniel, é rigoroso e cíclico: começa na adequação da infraestrutura, passa pela reestruturação de processos e culmina nos resultados assistenciais.

“Na nossa experiência, o maior desafio inicial foi estrutural. Adaptar um hospital com décadas de funcionamento às exigências atuais demanda investimento significativo. Mas é nos processos e no engajamento das pessoas que mora a virada de chave.”

A escolha por seguir também a certificação internacional Qmentum, com foco nas Práticas Organizacionais Obrigatórias (ROPs), levou a Santa Casa a organizar suas linhas de cuidado com base no perfil epidemiológico da população regional.

Foi assim que nasceram cinco frentes prioritárias: Maternidade e Pediatria (Linha do Nascimento), Urgência e Emergência (Politrauma, Dor Torácica e AVC) e Oncologia (Câncer de Mama). Cada uma com indicadores específicos de resultado, parte do esforço contínuo da instituição em mensurar e aprimorar seus desfechos clínicos.

Treinar para transformar

Outro fator fundamental foi o treinamento. A Santa Casa mapeou lacunas de conhecimento e, a partir delas, estruturou um programa contínuo de capacitação técnica e gerencial. Metodologias como Lean e, mais recentemente, o DRG (Diagnosis Related Groups), foram incorporadas à rotina da instituição.

“A cada nova ferramenta, promovemos um nivelamento de conhecimento com toda a equipe. Não se trata só de aprender uma nova técnica, mas de entender por que ela importa”, ressalta Daniel. O foco, segundo ele, é garantir que os conceitos saiam do papel e se tornem prática diária no contato com o paciente.

Com base estruturada e indicadores consolidados, a Santa Casa de Passos agora mira um novo ciclo de inovação. O prontuário eletrônico já está implantado, o DRG vem sendo aprofundado e a instituição se prepara para integrar recursos de inteligência artificial e telessaúde à sua rotina. “Nosso foco agora é ampliar nossa atuação regional, conectando os hospitais da nossa rede com mais eficiência e inteligência.” 

A ambição é grande, mas parte de uma base sólida: a convicção de que a qualidade não é um ponto de chegada, mas uma prática contínua. “Estamos aprendendo todos os dias, e queremos continuar evoluindo. Porque no fim das contas, cada indicador, cada protocolo, cada auditoria, tudo isso só faz sentido por uma única razão: o paciente.”

Liderança que guia

Quando perguntado sobre o papel da liderança nesse processo, Daniel é direto: “Sem o apoio da alta administração, nada disso teria saído do lugar”. Para ele, o compromisso com a qualidade precisa partir do topo, com clareza e constância. “Não basta delegar. É preciso estar junto, guiando.” 

Esse alinhamento se reflete no engajamento das equipes. “Quando todos compreendem que nosso propósito é entregar valor ao paciente, o cuidado ganha sentido. A qualidade deixa de ser meta e vira identidade.”

O desafio da cultura nacional

Apesar dos avanços, Daniel faz uma crítica contundente: o Brasil ainda trata a acreditação como um luxo. “Hoje, buscar certificações de qualidade é uma escolha voluntária. E muitos hospitais, especialmente no setor público e filantrópico, acabam não priorizando esse processo. Isso é um erro.”

Para ele, é hora de discutir a obrigatoriedade de certificações mínimas como política nacional. “Todo cidadão deveria ter garantido o direito a uma assistência baseada em protocolos seguros, onde quer que esteja. Isso não é privilégio, é dignidade.”